Mundos que se acabam,
Mundos que estão por vir
.
Redes que é preciso tecer,
Vozes que precisam
ser ouvidas.
Olhares voltados para as soluçõess e alternativas
que, desde a resistência, existem nos territórios,
há séculos

CASOS

Penco

Há anos, os habitantes de Penco, uma pequena cidade ao sul do Chile, resistem à instalação de um projeto mineiro para extrair terras raras em seu território. O mais recente empurrão para a aprovação do projeto é a guerra comercial do Ocidente contra a China, que busca desesperadamente novos depósitos de terras raras tanto para desafiar o domínio na produção mineral do país asiático, como para a obtenção de matéria-prima para a indústria tecnológica, automotiva e militar. A resistência comunitária em Penco e as pressões políticas e econômicas para aprovar o projeto mostram as contraditórias lógicas coloniais do capitalismo do século XXI, que aposta em uma pretensa sustentabilidade por meio da digitalização e da energia verde.

Territórios: Penco, Chile

Matopiba

Que imaginários de futuro e tecnologias promovem as grandes empresas do agronegócio? Como esta visão acelera a monocultura, ameaça a diversidade de cultivos e nossa segurança alimentar? Este estudo transita entre dois territórios: a Agrishow em Ribeirão Preto, onde mapeamos imaginários tecnológicos do Big Agro; e o caso da Gleba Tauá (TO), no Cerrado do Matopiba, "a nova fronteira agrícola", onde a digitalização apresenta novos desafios para conflitos agrários centenários. Analisamos como drones, IA e big data mascararam desmatamento, concentração de terras e violência contra comunidades, promovendo a grilagem digital e a expulsão de comunidades, contrapondo saberes ancestrais e justiça socioambiental à narrativa excludente do "Agro high-tech".

Territórios: Cerrado do Matopiba e Agrishow em Ribeirão Preto, Brasil

Querétaro

Não é seca, é saque: Querétaro, “o vale dos centros de dados”

Paola Ricaurte Quijano, Teresa Roldán Soria

ÁGUA

Querétaro, um pequeno estado do centro do México, consolidou-se como o principal polo da indústria de centros de dados no país. O auge deste setor corresponde à consolidação de políticas neoliberais que favoreceram sua expansão: privatização de empresas estatais, desregulamentação financeira e tratados de livre comércio que consolidaram a inserção subordinada do país na economia digital. Os impactos sobre as pessoas e o território são profundos, mas costumam ser minimizados na narrativa industrializadora do governo, marcada pela opacidade institucional. Grupos ambientalistas, defensoras de direitos humanos, comunidades e em particular povos indígenas e coletivos em defesa da água e do território, enfrentam hoje uma ameaça de expoliação de bens comuns vinculada a tecnologias emergentes.

Territórios: Querétaro, México

Jalisco

El Salto, município de Jalisco, na área metropolitana de Guadalajara, deve seu nome a uma cascata de água de 18 metros do rio Santiago. Desde o século XIX, a região vive um processo de industrialização devastador: primeiro uma hidrelétrica, depois fábricas têxteis e atualmente 675 empresas o posicionam como "Vale do Silício mexicano". Após décadas de exploração que geraram graves danos ambientais e violação de direitos humanos, o Plano México 2025 ameaça intensificar esta crise histórica por meio de maior investimento estrangeiro. O coletivo Un Salto de Vida, nascido há 20 anos, resiste articulando estratégias de defesa territorial, luta política e restauração ambiental, construindo esperanças politizadas que desafiam um modelo extrativo centenário.

Territórios: El Salto, Jalisco, México

Sobre TRAMAS

Tramas é um projeto de pesquisa-ação da Coalizão Feminista Decolonial pela Justiça Digital e Ambiental. Através de casos e testemunhos de resistências em vários países da América Latina, buscamos desvendar como a cadeia de produção de tecnologias digitais tem múltiplos impactos socioambientais nas comunidades e territórios.

Buscamos reunir perspectivas diversas da região e estabelecer um espaço de encontro e diálogo permanente entre ativistas e pesquisadoras que trabalham na defesa de direitos no ambiente digital e aquelas que participam de movimentos sociais e de defesa do território.

Nossa coalizão é composta por diversas organizações e ativistas com base no Chile, Brasil e México. Atualmente fazem parte da coalizão: Coding Rights (Joana Varon e Mari Tamari), Instituto Latinoamericano de Terraformação (Paz Peña), Sursiendo (Jes Ciacci), Paola Ricaurte (Rede Tierra Común e Rede Feminista de Pesquisa em Inteligência Artificial) e Loreto Bravo.

Para a plataforma, as ilustrações são de Giovanna Joo, webdesign pela Cooperativa de Diseño, webdevelopment por Diana K. Cury, tradução e revisão espanhol-português por Ana Cristina Carvalhaes.

Este projeto foi financiado pelo Green Screen Catalyst Fund da Green Screen Coalition. O caso do Brasil também teve apoio da Fundação Heinrich Böll Rio de Janeiro.